Saí do carro e chorei. Chorei não de tristeza, mas de emoção, ao ver passar diante dos meus olhos aquela cena de ternura e amor. aquela criança, que não tinha mais de 8 anos, na beira da estrada a dar água a uma senhora de uma certa idade, que presumi ser sua avó. Quando me aproximei, parei um pouco a olhar esta cena tão ternurenta, até que a criança se apercebeu que estava ali alguém. Olhou para mim, um tanto assustado, um tanto admirado, como quem diz: Que está aqui a fazer? precisa de alguma coisa? É proibido estarmos aqui?........
Baixei-me, perguntei se precisavam de alguma coisa, uma vez que estavam afastados da povoação, se queriam boleia, e se eram avó e neto. Então a senhora, a muito custo disse-me:-sou bisavó do Daniel. Ele não tem mais ninguém, e o estado ficou-me com a casa, porque não tive dinheiro para pagar os impostos, agora vamos para casa de uns sobrinhos meus, que tenho a certeza que não nos vão negar guarida.
Perguntei-lhes se tinham fome, ao que de imediato o menino me respondeu que sim, enquanto que a senhora ficou toda envergonhada. Então, pedi-lhes que entrassem para o carro, perguntei-lhes qual era o nome da terra para onde pretendiam ir, e seguimos viagem. Uns kms adiante, encontrámos um café, onde parámos para comermos. Fiz questão de comer com eles, para que se sentissem mais à vontade, Volto a repetir que este episódio me emocionou bastante, por vários motivos. O primeiro foi ver o amor e carinho com que o Daniel tratava a sua bisavó! Sempre com a sua mãozinha agarrada à da sua Visa, como ele lhe chamava.
Chegados a casa dos seus familiares, eles ficaram boquiabertos de os verem, e sobretudo naquela situação. Acolheram-nos de braços abertos, pois nunca pensaram ter família a passar assim necessidades. Isso sossegou-me a alma, pois eram menos duas pessoas que deixavam de dormir na rua, e de passar fome, E por ventura cuidados médicos. Só chorei, e aí, na verdade não foi de emoção, mas sim de revolta e de humilhação. Como é que o próprio estado pode pôr os seus cidadãos na rua, deixando-os sem eira nem beira......
M.C.Duque